A importância da diversidade para o ensino de língua adicional

Continuando com a postagem de trabalhos realizados durante a graduação. Espero que apreciem a leitura.

Fonte: No mundo das letras


A importância da diversidade para o ensino de língua adicional


Ser humano é entender que a
Diversidade leva à unidade,
Que a unidade leva à solidariedade,
Que a solidariedade leva à igualdade,
Que a igualdade leva à liberdade,
Que a liberdade leva à diversidade.
Georges Bourdoukan


     A escola (tanto a pública, quanto a privada), é um espaço de conflitos de identidade por excelência, portanto, é um laboratório de diversidade sociocultural que deve ser aproveitado para a promoção de uma sociedade equitativa, justa, empática. A partir dessa afirmação, surgem duas questões: em primeiro lugar, porque se assinalam as escolas públicas e particulares?Há diferença? E, em segundo lugar: porque equidade, justiça e empatia estão relacionados ao ensino de línguas? Qual relação pode existir entre diversidade sociocultural e o ensino de línguas? Neste ensaio se apresenta uma breve argumentação sobre esses assuntos, a fim de justificar a crença na importância de valorizar a diversidade sociocultural no ensino de língua adicional.

       Apesar da diversidade ser uma característica humana inata, apenas a partir do séc. XX é que seres humanos começaram a se dar conta dessas diferenças individuais.Olhando para a história da escola, é possível recordar o caráter exclusivo dessa instituição que foi inventada, unicamente, para as elites. Estas instituições de ensino serviam para um grupo específico, que se mostrava homogêneo e essa qualidade foi herdada, de certa maneira, pelas escolas particulares. Essa homogeneidade ainda está sendo superada, por um processo iniciado desde a democratização da educação que, abrindo a porta a mais estudantes, permitiu o reconhecimento das diferenças nas escolas.

       Assim, a escola pública (tal como algumas privadas), ao atender a uma grande quantidade de estudantes, supõe, então, possuir uma ampla diversidade social, cultural e econômica. De maneira diferente, várias escolas particulares tem um número reduzido de alunas e alunos, o que sugere a existência de maior homogeneidade.Entretanto, é sempre necessário lembrar que, apesar das possíveis semelhanças entre um grupo, cada indivíduo é único, por isso, é importante ampliar o que se entende por diversidade nas escolas.Ou seja, existe a necessidade de se pensar, tanto nas minorias e nas pessoas com condições diferentes de aprendizagem, quanto nas diferenças linguísticas, nas distintas condições socioeconômicas, nas relações de preconceito e de exclusão que existem nas escolas, nas dificuldades/facilidades de aprendizagem ou interesse/desinteresse pelos conteúdos entre outras diferenças em meio a estudantes.

       Com o foco na existência de todas essas diferenças, professoras e professores, que desejam oferecer um ensino de qualidade e não apenas reproduzir informações, precisam preparar suas aulas reconhecendo as especificidades de cada indivíduo. É o que se entende por respeitar as diversas identidades, como propõe o Concelho Nacional de Educação:


A consciência do direito de constituir uma identidade própria e do reconhecimento da identidade do outro traduz-se no direito à igualdade e no respeito às diferenças, assegurando oportunidades diferenciadas (equidade), tantas quantas forem necessárias, com vistas à busca da igualdade. O princípio da equidade reconhece a diferença e a necessidade de haver condições diferenciadas para o processo educacional(BRASIL, 2001, p.11).  


       É importante, antes de tratar sobre como professores escolhem oferecer suas aulas, entender o que é o ensino de língua adicional. Para isso, faz-se necessário pensar no próprio conceito de língua: a língua de um país (ou de uma região) é só o que se encontra em obras literárias? É a maneira como as pessoas das elites se comunicam? São as músicas das periferias? A língua envolve outros aspectos da cultura? Responder a essas questões, levará ao professor a enfrentar a língua de maneira a ignorar ou valorizar as diferenças culturais. A partir das leituras de documentos oficiais, como o do Ministério da Educação, entende-se que o ideal é buscar uma educação, um ensino (no caso, de línguas) que valorize o outro, que aprecie as diferenças (nesse caso, especificamente, as diferenças culturais), transformando-se numa educação multicultural.

Fonte: Tecendo ideias, construindo saberes

       Outra questão importante que vale a pena levar em conta é pensar na pergunta: quem ensina e quem aprende? A/o profissional da educação é a única pessoa com conhecimento para “despejar” em quem estuda? Quem estuda nunca tem informações novas, desconhecidas de quem é responsável por ensinar? De acordo com Gadotti (1992, p. 70), o sujeito do conhecimento tem uma experiência que é a principal característica do processo de construção do saber. Tal processo não é apenas uma absorção de informações, mas pressupõe o desenvolvimento de quem aprende, a transformação do que conhece. Nas palavras do autor:

Todo ser humano é capaz de aprender e de ensinar, e, no processo de construção do conhecimento, todos os envolvidos aprendem e ensinam. O processo de ensino-aprendizagem é mais eficaz quando o educando participa, ele mesmo, da construção do seu conhecimento, fazendo ‘seu’ o conhecimento e não apenas ‘aprendendo’ o conhecimento (Gadotti, 1992, p. 70).


       Além disso, também é preciso entender os conceitos de aprendizagem de línguas. Essa aprendizagem se realiza e é consolidada a partir de vivências, de contatos, ou seja, da comunicação com a outra língua que se aprende. Assim, como afirma Gadotti (1992, p. 21), se existe uma relação com o outro, esta deve ser respeitosa, de valorização das diferenças, afim de abrir as perspectivas de estudantes para a compreensão, e não o julgamento, das culturas, linguagens e modo de pensar alheios; profissionais da educação precisam mostrar a importância de se construir, junto a estudantes, como seres sociais, uma sociedade plural, justa, equitativa.

       Alcança-se, então, duas esferas de diferença no ensino de línguas: a primeira, entre o grupo de estudantes e a cultura, sociedade que engloba a língua a ser aprendida e a segunda, que reúne as diferenças entre esse grupo. Profissionais interessados em promover uma sociedade com mais empatia, equidade e justiça buscam, então, valorizar as diferenças nestas duas esferas: apresentando o outro “distante”[1], sua cultura, língua, sociedade... assim como respeitando as diferenças encontradas entre quem estuda essa língua adicional.

       A partir destes argumentos, acredita-se que a diversidade na educação está intimamente ligada tanto à criação de oportunidades ao acesso, à permanência e ao sucesso escolar de diferentes estudantes,com igualdades de condições, independentemente das identidades que carregam, quanto ao respeito e a valorização das culturas, sociedades, linguagens com as quais profissionais da educação e estudantes estão trabalhando e aprendendo.

Fonte: Sympla


Referências bibliográficas

BRASIL. Conselho Nacional de Educação. Parecer nº 017/2001. Brasília. MEC/CNE 2001. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/CEB017_2001.pdf acesso a 18/12/2017 às 17:15.
GADOTTI, Moacir. Diversidade Cultural e Educação para Todos. Juiz de Fora:
Graal, 1992. Disponível em: file:///C:/Users/Recepcao/Downloads/FPF_PTPF_12_032.pdf acesso a 18/12/2017 às 18:30.


[1] Essa palavra se refere a língua adicional que o grupo aprende, que pode ser próxima dependendo de vários contextos, como, por exemplo, descendentes de alemães que aprendem essa língua estrangeira no Brasil e assim sucessivamente.

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